Panteonávelmente

10-01-2014 19:00

Morreu o rei, todo o país chora de forma sentida a partida de um dos maiores símbolos português...do futebol.

O humilde moçambicano, homem comum e de modestos hábitos faz parte de um número restrito de predestinados com uma apetência natural para a prática desse desporto que move multidões, gera emoções e infelizmente tolda a lucidez a muitos.

Curiosamente teve a particularidade de a sua existência ser transversal aos dois últimos regimes políticos vigentes em Portugal, foi inequivocamente um símbolo do antigo regime, servindo de forma involuntária os intentos do estado novo como vértice fundamental do triangulo dos três “F´”, (Fátima, Fado e Futebol).

Graças a esta sua colagem forçada ao regime de Salazar, nos anos imediatos à revolução viu-se vetado a uma ostracização mais ou menos intencional por parte de muitos que hoje choram pateticamente a sua morte, bem como pelo clube do seu coração.

Infelizmente a vida é mesmo assim e nem os reis estão imunes a estas coisas, obviamente com uma dimensão imensuravelmente distinta do comum dos mortais, quando morremos é que somos recordados como pessoas fantásticas, mas no caso do Eusébio isto foi elevado a um exponencial que atinge e ultrapassa tudo o que configura os parâmetros da “normalidade”.

O histerismo, a forma desmesurada e extenuante em como os canais de televisão detalharam, entrevistaram, e opinaram só tem comparação no estado plangente, magoado, lastimoso e lamuriento de muitos dos cidadãos que compuseram o quadro.

Por outro lado, foi constrangedor ver a forma despudorada, de como os políticos sem exceção sentiram a necessidade de se associarem ao evento, parece que o Eusébio mantêm a cola de outros tempos, neste quadro não podemos de deixar de fazer a ligação dos tempos actuais com os da “outra senhora”, para concluirmos que ao fim de 40 anos neste campo como noutros, pouco ou nada mudou.

Enfim após cortejos, desencontros, atrasos, empurrões manifestações de pesar ao mesmo tempo que se pisam campas de defuntos anónimos, lá se realizou o funeral do rei, dando por terminado o primeiro capitulo que mais se assemelhou a uma telenovela sul- americana, e quem em nada prestigiou a memória de Eusébio.

Rei morto, enterrado e eis que agora se levanta mais uma relevantíssima questão, não merecerá o monarca honras de panteão? Sim porque se está lá a Amália, (mais um ícone português), e se até existiam duas lontras no oceanário carinhosamente denominadas de Eusébio e Amália, seguindo o raciocínio, logo se a Amália teve honras de panteão Eusébio também deve ter.

Perdoem-me os mais susceptíveis, não era minha intenção melindrar ninguém com a analogia das lontras, pretendia apenas estabelecer algum critério na elegibilidade ou não de alguém a honras de panteão, pois pensando nos que já lá repousam ficam-me sérias dúvidas que tenha existindo tão pouco algum critério, ou sequer se faz algum sentido existir um monumento com tais características, na minha modesta opinião ocorra ou não a transladação para o panteão, isso não valoriza nem diminui o homem que o Eusébio foi.

Por fim é por demais evidente que apesar de estarmos perante alguém que se destacou na sua área, como muitos poucos, a “obra” que deixa fica inabalavelmente ligada ao SLB, e não tanto a Portugal, a sua vida e carreira contribuíram de forma perentória para a grandeza do clube que sempre representou sendo o seu maior símbolo, Eusébio e Benfica são duas palavras em que o homem e a instituição se confundem.

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