O Sol Por Enquanto Ainda é de Borla

18-08-2011 20:00

 

 Estou farto, vou deixar de dar porrada ao "mais africano dos primeiros-ministros", não que esteja preocupado com eventuais reacções da  associação SOS Racismo, mas na realidade, acho que o pequeno merece alguma tolerância.

Aliás esta minha linha de pensamento vem ao encontro daquilo que foram as conclusões da troika, que na análise efectuada ao desempenho do promissor jovem e do seu laborioso governo, conclui que os mesmos seguiam no caminho apontado pelo memorando.

Ou seja do ponto de vista da troika, e daqueles que esta representa, o espólio que tem sido efectuado aos cidadãos portugueses é francamente positivo, mas deixa o alerta de que os maiores desafios ainda estão por chegar, ou como diz o povo ainda a procissão vai no adro.

Segui com natural interesse a entrevista da Judite de Sousa ao Sr. FMI, e foi com algum espanto que constatei, a naturalidade e até alguma falta de pudor com que o Sr. Poul Thomsen, se pronunciou acerca da venda do BPN, da oportunidade das privatizações anunciadas(saldos), mostrou-se chocado com o desemprego dos jovens, quando na realidade a instituição que representa, promove e mantém um silêncio criminoso acerca da deslocalização de grandes grupos empresariais, para destinos onde a mão-de-obra é mais barata, não existindo qualquer preocupação com o  vazio provocado e consequente desemprego dos trabalhadores de várias faixas etárias.

Deixou mais uma vez a ideia da necessidade de reformas urgentes, nos mais variados sectores do estado, sendo ponto fundamental a redução da taxa social única, como um aspecto fundamental para o sucesso a alcançar. Neste caso ficou por explicar e também por questionar pela jornalista, onde vai o estado buscar as receitas necessárias á segurança social, ou o Sr. FMI também defende que se deixem de pagar as reformas, que se acabe com o fundo de desemprego, e que se fechem os hospitais, ou outras instituições públicas, pois falta explicar às pessoas aonde se vai buscar o dinheiro que as entidades patronais vão deixar de descontar.

Acerca destes últimos será que alguém acredita que o encaixe financeiro a concretizar, pelas entidades patronais com a diminuição da TSU, vai servir para algo mais do que engrossar os lucros que os accionistas encaixam, isto com o intuito evidente de tornarem as empresas a privatizar ainda mais apetecíveis para os capitalistas que se preparam para tomar conta das mesmas, a justificação de que tal medida irá contribuir para a criação de mais emprego é falaciosa, a precariedade do mercado de trabalho é tal, que as entidades patronais não têm qualquer dificuldade em impor as suas regras aos  trabalhadores que nessas condições não têm qualquer defesa, logo dificilmente as circunstâncias seriam melhores para o patronato contratar a seu belo prazer. 

Só quem tem uma visão utópica é que pode ainda acreditar neste modelo de sociedade, fundamentado numa suposta igualdade de oportunidades, em que todos podemos ambicionar a uma vida melhor. Da mesma forma que o modelo comunista se revelou utopicamente inatingível, pois a natureza humana não o permite, também o capitalismo padece da mesma doença e está agonizante, o sonho de uma Europa próspera e economicamente unida é uma falsidade.

O que temos na realidade é um conjunto de países unidos pelas fronteiras, e uma moeda comum, mas que cujos crescimentos económicos são muito diferentes, o que é perfeitamente normal, pois ao contrário da França e da Alemanha, Portugal não constrói aviões nem fabrica automóveis, e vê alguns dos sectores da sua economia tradicional como o calçado e têxteis, bem como outras de tecnologia de ponta a sofrer uma concorrência feroz dos chamados países emergentes, com a inevitável deslocalização para esses mercados de algumas empresas que obtiveram apoios estatais e até á pouco tempo eram apontadas como um exemplo do que melhor se fazia em Portugal.

Como tal a nossa capacidade de produzir riqueza é obviamente menor, da mesma forma que a sua economia por estas mesmas razões é mais vulnerável aos mercados, isto não significa que os portugueses não tenham direito a ter ordenados que lhe permitam ter uma vida digna com acesso aos mesmos cuidados de saúde, e acesso ao ensino, que os cidadãos do resto da CEE.

É óbvio que não existem almoços grátis, todo o dinheiro que entrou em Portugal desde a sua adesão ao mercado único, tem um preço ao contrário do que muitos nos quiseram fazer acreditar, esse preço tem sido pago ao longo dos anos, exemplo desse preço é a consequente perca de poder decisório em situações fundamentais e estruturais da nossa economia, o abate da frota de pesca, em vez da sua modernização é disso um exemplo fulcral, um país rodeado de mar e que abdica dessa riqueza em troco de uns milhares de euros distribuídos por alguns, é um país que não vai certamente na rota correcta, o tal estilo de vida acima das possibilidades fomentado entre os portugueses, também serviu para estes adquirirem bens e produtos exportados pelo eixo franco-alemão, tais como os Bmw, Audis e Mercedes, que populam nas nossas estradas, com o simples facto de adquirir-mos estes bens, não estão os países em causa a ter o retorno do investimento efectuado através dos fundos comunitários investidos em Portugal.

É certo que se olharmos hoje para aquilo que era o nosso país á quarenta anos, as diferenças verificadas são abismais, e hoje que está tão em moda falar de abismos e precipícios, é um facto incontestável que os portugueses na sua esmagadora maioria vivem realmente melhor nos dias que correm, o acesso á saúde e á educação é generalizado e dentro dos padrões médios europeus, a mortalidade infantil é um exemplo inequívoco e serve para medir os padrões de desenvolvimento de uma sociedade evoluída.

Vêm agora dizer-nos que vivemos bem demais, que não temos possibilidades de continuar a viver de acordo com os padrões europeus, que os nossos serviços de saúde, são tão bons que vamos ter que começar a pagar por eles, ainda mais do que já pagamos, caso não concordemos temos sempre a possibilidade de emigrar para qualquer destino mais adequado com às nossas verdadeiras possibilidades a escolha é múltipla, algures entre o continente africano ou asiático.

Estou de acordo que deve existir um maior rigor no uso que se faz dos dinheiros públicos, os vencimentos dos quadros superiores e administrações de organismos do estado devem ser adaptados á realidade não do nosso país mas sim da própria Europa, é do conhecimento geral que em média as contrapartidas financeiras praticadas em Portugal, ficam muito acima da média europeia. Pela mesma bitola é em regra feito o ajuste dos vencimentos dos gestores e quadros superiores de grande parte das empresas da nossa economia.

Lamentavelmente o próprio ministro da economia reconhece tal facto, ao tentar justificar o super vencimento auferido pela sua chefe de gabinete de cerca de 5 mil euros por mês, com o facto de a mesma ao optar pelo cargo no ministério perder cerca de 50 mil euros, é caso para dizer que a senhora deve ser mesmo boa no que faz.

São situações simulares a estas em que titulares de cargos em administrações de empresas publicas e organismos do estado, auferem pequenas fortunas, acrescidas de outras alcavalas, que se reflectem nas reformas douradas, que em conjunto com a elaboração de contratos totalmente blindados, cujo rompimento é mais gravoso para o estado do que mantê-los até ao fim, provocaram a verdadeira ruina financeira da republica com a partilha destas beneses pelos gangues partidários que nos têm governado.

São estas situação o motivo principal do descrédito das pessoas nos politicos, bem como a própria falência moral e económica do estado, e ao contrário do que muitos nos querem fazer crer tem sido o apanágio dos vários governos dos últimos quarenta anos, não existem inocentes nem uns mais culpados que outros.

 

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