Fractura Social

19-11-2012 19:56

 

A crise trouxe com ela sinais preocupantes de divisão social sinto-me mesmo tentado a estabelecer como analogia a ideia expressa até á exaustão de “que Portugal não é a Grécia”, para exemplificar as barricadas que se levantam na nossa sociedade.

Infelizmente enquanto o desemprego grassa, na sua cavalgada imparável destruindo á sua passagem a vida de inúmeras famílias, outros convictas da sua imunidade assobiam para o lado e não hesitam em atirar a primeira pedra, argumentando que muitos dos que agora passam dificuldades, tomaram opções de vida muito acima das suas possibilidades.

Reconheço que existe alguma verdade nesta afirmação, não deve porém ser escamoteada a responsabilidade que assiste nesta matéria às entidades bancárias e aos seus agentes, na instigação ao crédito sem ditames nem regras, infelizmente também elas instigadas pelos credores que agora reclamam o seu dinheiro, e tudo isto debaixo do olhar cúmplice dos reguladores financeiros tais como o banco de Portugal.

Não quero com isto desculpar, ou julgar menos previdentes, todos os que não pensaram que estariam a adquirir bens e serviços, absolutamente dispensáveis ou pelo menos não necessários, não são porém nesta altura do campeonato só esses os portugueses a sentirem dificuldades, e a deixarem de poder honrar os seus compromissos.

Neste momento os dependentes do RSI, os desempregados de longa duração, os subsídios dependentes de sempre, é algo que já ficou definitivamente para trás, o que está em causa agora são famílias da chamada “classe média”, que constitui grande parte da população activa pagadora de impostos, são as empresas onde estas pessoas trabalham que estão a fechar portas, com a condição mais que certa que para eles não existe verba para pagar subsídios de desemprego, nem qualquer outro tipo de ajuda.

 Infelizmente pude constatar junto de um grupo de amigos, pessoas da minha idade, o divórcio total com preocupações deste tipo, muito pelo contrário para eles a generalidade dos portugueses (os outros), são uma cambada de malandros que não querem é trabalhar, aliás ao ouvi-los pareceu-me que não viviam no mesmo país que eu, ao ouvi-los imaginava-os num pedestal, ou atrás de uma parede de betão, completamente imunes às consequências desta politica que visa o cumprimento de um memorando nem que para isso seja necessário destruir a totalidade da economia de Portugal e consequentemente os postos de trabalho, vetando assim á miséria milhares de famílias.

É certo o ditado é antigo “quem vive no convento é que sabe o que lá vai dentro”, nada como viver as situações para sabermos dar o devido valor às mesmas, porém não é necessário estar desempregado para saber que se trata de uma situação difícil, e utilizar o chavão de que “muitos não querem é trabalhar”, nos tempos que correm é no mínimo falta de sensibilidade social, ou falta de visão, pois nos dias de hoje, podem acordar de manhã do lado da barricada “dos que não querem é trabalhar”, e nessa altura provavelmente verão a situação de um prisma diferente, mas já será tarde.

Sem dúvida que é da diversidade de opiniões e ideias que resulta uma sociedade mais abrangente e justa, onde todos temos lugar, e um papel a desempenhar por sua vez o radicalizar de opiniões, leva ao extremar de posições e á fractura social.

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