Electricidade em Pacotes

04-08-2012 00:55

 

Desde há algum tempo, que tenho em ideia escrever algumas linhas sobre a liberalização total do comércio de energia.

Repararam certamente que escrevi comércio e não mercado, como fantasiosamente é apelidado pelos economistas e propagandeado pela comunicação social.

Aquilo que na realidade está a acontecer é uma mera operação de cosmética, em que supostamente o cliente final deveria ser beneficiado, com tarifas mais apelativas tirando assim proveito da entrada na negociata da energia de mais uma meia dúzia de comercializadores, vejam a própria forma achada para os designar, é exemplificativa daquilo que até agora afirmei, trata-se de comercializadores, que no caso concreto comercializam electricidade, como podiam comercializar batatas.

E tal como no negócio das batatas, também estes “comercializadores”, não produzem e no caso concreto da energia nem sequer são responsáveis pela sua distribuição, ficando esta ao encargo de um operador de rede, que pasme-se continuará a ser a “vossa velhinha” EDP, e aqui cabe-me o dever de esclarecer os que eventualmente desconhecem a minha actividade profissional, de que sou trabalhador da EDP-Distribuição e serei um, de entre muitos que continuarão responsáveis, por fazer continuar chegar às vossas casas as batatas, perdão a electricidade que utilizam diariamente, da mesma forma que ironicamente, em caso de avaria, ou assistência técnica o único rosto visível, deste negócio, será o do funcionário da EDP, que se deslocará á vossa casa.

Muitos estarão a pensar, este gajo esteve a beber ou droga-se, mas que raio de conversa esta, quero lá saber quem é que entrega a energia, se for mais barato até faço contrato com a drogaria do Carrilho, ou a mercearia da Judite!

Este é o raciocínio mais lógico, mais correcto, que todos nós fazemos no dia-a-dia quando nos propomos a adquirir algo, mas será este o verdadeiro intuito, da tão propalada abertura do mercado, ou por outro lado iremos assistir á mesma vergonha que se passou com as telecomunicações; com os combustíveis, onde nos últimos anos se tem assistido a uma mera cartelização de preços.

Será bom não esquecer que com o fim do monopólio da EDP, termina também o mercado universal com as tarifas reguladas, ficando a partir dai cada “comercializador”, livre para definir as margens de lucro a atingir, isto obviamente depois das “batatas” pagas ao produtor, e das despesas da distribuição deduzidas.

Creio que aquilo que agora parecem opções promissoras, próprias da captação de novos clientes, rapidamente se esfumarão, mesmo para aqueles que vêem nestes novos comercializadores, a oportunidade de se safarem com mais uns mesitos sem pagar, saltitando de um comercializador para o outro, como fizeram com os operadores de telecomunicações, não têm a mesma sorte na energia pois o Pedrito, já tratou de fazer uma lista de caloteiros, pois neste negócio os comerciantes não se podem dar ao luxo de perder uma única batata.

Confesso é com profunda mágoa e muitas reservas que vejo uma actividade que pelo facto de ser um pilar estrutural na economia de um país, e que deveria ter sido mantida pública, ser transformada numa negociata, em nome de pretensos interesses do consumidor, que o tempo irá oportunamente desmascarar.

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