Dignidade

23-06-2012 00:00

 

Cresci no seio de uma família, enquadrada pelos parâmetros actuais na categoria de “família numerosa”, não tive uma infância abastada mas o essencial nunca faltou. Fui educado dentro dos valores do respeito pelo próximo, tendo vindo ao longo dos anos desenvolvendo a consciência de que, só nos é possível estarmos realmente bem se aqueles que nos rodeiam e interagem socialmente connosco vivem com a dignidade devida ao comum do ser humano.
Bem cedo ainda adolescente, tomei consciência de que no meio social onde estava inserido, e refiro-me ao universo da minha rua e dos meus vizinhos, existiam outros jovens da minha idade cujas famílias tinham uma vida mais difícil, do que a minha.
Porém algo que sempre admirei, foi que a grande maioria dessas pessoas, para além das dificuldades e das privações que passavam, eram naturalmente humildes e, apesar das suas dificuldades, mantinham a sua dignidade e conseguiram criar os seus filhos fazendo de muitos deles excelentes seres humanos, grandes amigos de que guardo as melhores recordações.
Este tema não podia ser mais actual, nos tempos que correm, em que a crise tem sido a justificação para muita injustiça, para alterar leis laborais, aplicar ideologias politicas alucinadas, e mais grave no meu ponto de vista, tem servido para um miserável ajuste de contas com a revolução de Abril, e com tudo o que resultou desta. 
Infelizmente e ao contrário daqueles que á data da minha infância, apesar de viverem com dificuldades, sabiam manter a sua dignidade, eventualmente porque aprenderam ao longo dos muitos anos de ditadura a que estiveram sujeitos, a superarem-se a si mesmos, hoje o que assistimos é algo muito mais degradante e que choca qualquer um que tenha uma consciência social e que não ande obcecado nem politicamente cego.
O mesmo governo que facilita os despedimentos, que baixa os valores dos subsídios de desemprego, que desregra o mercado laboral privilegiando a precaridade, com o argumento hipócrita e falacioso, que pretende assim promover o emprego, presta-se a investir 50 milhões de euros em cantinas sociais, no culminar de uma politica que não tem outro objectivo que retirar às pessoas a única coisa que possuem que verdadeiramente não tem preço, a sua dignidade. Não tenho nada contra os apoios sociais, faço até parte de um grupo que desenvolve diversas iniciativas de solidariedade, no entanto temos que saber distinguir entre apoiar socialmente e actos de caridadezinha miserável, praticada e patrocinada pelos mesmos que semearam inicialmente a miséria.
 
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