Agridoce

04-01-2012 19:50

Pingo doce com sabor amargo estalou mais uma polémica com contornos mediáticos, mas esvaziada de substância. Diria mais, só alguém verdadeiramente distraído e desconhecedor da realidade nacional é que poderia ficar surpreendido com a iniciativa tomada pelos donos do grupo Jerónimo Martins.

Reconheço que me incluo nesse grupo de pessoas, inicialmente fiquei incrédulo com o despudor da iniciativa, porém após uma análise mais atenta, constatei que a decisão da família Soares dos Santos, não é caso único, e outras grandes empresas da nossa praça, já tomaram idêntica iniciativa.

Aliás de acordo com noticias entretanto divulgadas, a grande maioria das empresas cotadas em bolsa detêm subsidiárias, na Holanda ou Luxemburgo, e tal pratica só é possível porque foi legislado de forma a facilitar tal iniciativa. É um facto que apesar desta fuga ao fisco, ter um enquadramento totalmente legal, causa-me algum prurido saber que cada vez que faço compras nos espaços Pingo Doce, do valor pago provavelmente nenhum reverterá em impostos para o meu país, servindo apenas para engrossar as mais-valias dos accionistas, sem qualquer tributação, enquanto por cá distribuem uns "cabazes cliente" a dez euros.

Num momento difícil para Portugal, quando a generalidade dos portugueses estão sujeitos a uma austeridade rigorosa, em que lhes é solicitado um atitude altruísta e uma estoica resiliência, esta notícia é um autêntico tsunami, e demonstra bem o acreditar dos empresários portugueses no seu país.

Enquanto isto decorre, os políticos dão provavelmente motivos mais que suficientes, para que a sua credibilidade continue a ser questionada, refiro-me concretamente ao pedido de fiscalização do orçamento de estado, que pelos vistos ninguém quer solicitar ao tribunal constitucional. Inicialmente julguei que seria o senhor Silva a tomar tal iniciativa, tal seria consequente com as duvidas levantadas pelo próprio aquando da apresentação de algumas medidas que compunham o documento, mas mais uma vez, a criatura foi inconsequente e ficou-se por ai.

Agora é o próprio grupo parlamentar do PS, que após a contestação estrondosa a que vetou o OE, com a estrondosa abstenção dai resultante, vem dar continuidade a algo a que as hostes socialistas já nos habituaram, e que resulta numa falta de liderança, com alguns deputados a tomarem a iniciativa que devia caber a um grupo parlamentar, que tem mantido uma oposição estranhamente híbrida, que não se consegue descolar da assinatura do memorando da troika, apesar de este já ter sido reformulado sem que disso o PS tivesse tomado parte, seguramente não será assim que o Seguro será opção, seja para o que for.

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