Acossados

07-10-2012 15:21

 

Já decorreram longos e conturbados meses, desde a última vez que me predispus a escrever algo, confesso a torrente de acontecimentos tem sido de tal abundância, que me tem faltado a capacidade e por vezes a vontade de os abordar.

Temos efetivamente assistido a um tal chorrilho de ataques aos trabalhadores e á nossa “democracia”, que corremos o risco de começarmo-nos a habituar e não dar a devida importância às maldades que vão sendo pensadas, anunciadas e aplicadas, tudo em nome dos sacrifícios necessários para retomarmos a nossa soberania.

Reparem não deixa de ser curioso que quem adota este discurso assume sem pudor, ou com total falta dele, que na realidade Portugal não é um estado soberano.

No dia 15 de setembro, ocorreu algo totalmente impensável de norte a sul do país o povo anonimo sem ter por detrás de si qualquer organização partidária ou sindical, saiu á rua e fez tremer o poder politico, uns porque constataram que este povo ainda estava vivo e a sua paciência não era inesgotável, outros porque se viram ultrapassados e sentem no “ar”, um cada vez mais crescente sentimento anti partidário, potencialmente perigoso para os que têm na vida politica a sua única ocupação, e sem esta a sua vida não tem qualquer sentido.

Mas passemos á substância das medidas que provocaram tão inusitada mobilização nas gentes lusitanas, mais uma vez o que estava em causa é a ideologia que move o Pedro e os seus pares, mais uma vez assumiram (neste aspeto a honra lhes seja feita, sempre disseram ao que vinham), quais os seus verdadeiros propósitos, que passam simplesmente por empobrecer os Portugueses, chegando ao ponto de quererem pôr estes a pagar a segurança social que era devida às empresas, libertando estas deste encargo, onerando por sua vez os trabalhadores, com os tão propalados 18% de TSU.

Existe porem um pormenor (ou por maior), que importa esclarecer e que tem passado ao lado da esmagadora maioria de economistas e pseudo-economistas, que reinam na imprensa escrita e televisiva, curiosamente apontam-se as medidas recentemente apontadas no orçamento de estado e ainda muito mal explicadas, como sendo a moeda de troca para a queda do TSU, isto a mim cheira-me a Pedro, que á a mesma coisa que dizer que me parece peta, senão vejam a TSU na realidade não permitia qualquer encaixe financeiro ao estado, pura e simplesmente tiravam aos trabalhadores para dar às empresas, ou seja caso não tivessem as pessoas saído á rua, comiam o TSU á moda do PSD, e agora levavam com uma mexida nos escalões de IRS, e respectivas taxas o que nas palavras do “choninhas”, visa uma diminuição das desigualdades, o que na pratica irá acontecer, pois da aplicação da teoria, irá resultar a destruição da classe média, ou seja será tudo nivelado pela miséria e pobreza.

Acerca de TSU´S e impostos uma palavra ainda para o ministro de “estado” e negócios estrangeiros, pessoalmente já não tenho paciência, para os teatrinhos deste senhor, enoja-me aquele “ar patriota”, de alguém que por diversas vezes já colocou os próprios interesses e os do seu partido, por esta mesma ordem, á frente dos interesses do país.

Por fim o 5 de outubro, data comemorativa do regime republicano vigente no nosso país desde 1910, e que este ano teve a particularidade de ser o último comemorado como feriado nacional. Focando-me neste ultimo facto, atrevo-me a afirmar que provavelmente será melhor assim, na realidade os acontecimentos que se precipitaram no passado 5 de outubro, são o sinal dos tempos que vivemos, não falo do por maior da bandeira hasteada ao contrário e o seu significado, não falo do discurso inócuo do “senhor silva”, preocupa-me seriamente o facto de constatar que o estado está acossado, os protagonistas políticos escudam-se em eventos inadiáveis e fogem ao confronto com o povo, os que não têm esta alternativa abandonam as comemorações de forma discreta, mas triste é o facto de tornarem uma festa do povo, numa cerimónia privada, onde só  se tem acesso por convite, triste é a necessidade de ser montado um cordão policial para manter á distância aqueles que deviam ser os principais intervenientes das comemorações, triste é os eleitos terem medo dos que juraram sob a constituição servirem.

Ouço muitas vezes, em demasia até, alguns dizerem que os que governam, fazem-no porque foram legitimados por sufrágio eleitoral, é bom no entanto não esquecer que tal facto não é inesgotável e não pode servir para justificar tudo, presumo que ninguém terá passado um cheque em branco a estes senhores, para o bem e para o mal a legitimidade politica é sufragada todos os dias, e a legitimidade destes senhores quanto a mim já terá sido ultrapassada há muito.

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