Compaixão Ultrajante

10-11-2012 23:09

 

Numa altura em que as classes sociais sofrem uma profunda alteração, eis que está lançada mais uma polémica, a responsável pelo banco alimentar contra a fome veio proferir declarações controversas, demonstrando uma postura no mínimo, muito pouco consentânea com a sua atividade.

De acordo com Isabel Jonet, os portugueses vivem muito acima das suas possibilidades, e como tal têm de empobrecer e devem aprender a viver com pouco. Vejamos numa primeira analise as afirmações proferidas, são totalmente legítimas e retratam a visão da cidadã Isabel, até aqui nada a censurar, visto que todos têm direito a emitir opinião.

Porem vindas essas mesmas afirmações da responsável máxima pelo banco alimentar contra a fome, soam realmente mal e levantam sérias dúvidas acerca dos verdadeiros motivos que levaram a dita senhora a abraçar tão digna causa.

É no mínimo estranho que quem luta contra a fome e a pobreza, venha por outro lado defender que tenham de haver mais portugueses a empobrecer e a necessitar de ajuda, estará a senhora com medo que a crise lhe acabe com o “negócio”, muito francamente não me parece que corra esse risco, muito pelo contrário pelo andar da carruagem, serão cada vez mais as famílias a necessitarem de ajuda.

Certamente que a realidade da crise revelou fragilidades na sociedade, obviamente que muitas famílias viveram muito acima das suas possibilidades, não podemos porem esquecermo-nos que muitos dos que agora adotam este discurso, são os mesmos que fomentaram e instigaram o crédito selvagem sem regras, enoja-me ver responsáveis bancários como por exemplo o “patrão” do BPI, apontar o dedo aos Portugueses, Ulrich e outros “bancários” têm grandes responsabilidades na falência de muitas famílias.

Em Portugal ainda não foram registadas situações de suicídios, pelo menos não foram tornadas publicas, não houve ainda quem desesperado se imolasse pelo fogo, ou na expectativa de ser despejado de sua casa se atirasse de um quarto andar, em contrapartida temos a Isabel Jonet a dizer-nos que não podemos comer bifes todos os dias, e o Ulrich a constatar que ainda “aguentamos” (nós obviamente, não ele) mais sacrifícios.

Francamente estou-me completamente a borrifar para o facto de Isabel achar que não podemos comer bifes todos os dias, aliás até concordo que é pouco saudável comer bifes todos os dias, já quanto ao facto de a dita senhora julgar que não existe miséria em Portugal, causa-me alguma perplexidade, não pela opinião em si, mas pelo facto de ao fazer tal afirmação demonstrar desconhecimento acerca da realidade, o que é grave atendendo ao lugar que ocupa na instituição banco alimentar contra a fome, ou será que para a senhora haver pessoas sem ter que comer, não é miséria suficiente?

Temos porém que saber distinguir a instituição de quem a preside, são coisas distintas confundi-las seria desvirtuar o melhor que existe na sociedade portuguesa, a solidariedade, por outro lado elevaríamos a um expoente que não merece a Isabelinha, pois com ou sem ela á frente da benemérita instituição, esta só existe devido ao imenso coração dos portugueses, que não confundem solidariedade com caridadezinha miserável, tão ao jeito de certas “tiazocas” saudosas de outros tempos, que miseravelmente estão aos poucos a retornar.

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